Após
alguns dias em Aveiro, Damien conheceu algumas pessoas na taverna da cidade,
uns visitantes da Guarda anunciavam pelas ruas que iriam realizar um Torneio de
Justas, onde o vencedor seria recompensado. Isso despertou a atenção do
Mondragón, seria bom um dinheiro fácil. Ele e a sua irmã partiram para Sul,
tentando obter alguma carne e outros alimentos.
Cidade
após cidade, Damien foi viajando, Coimbra, Leiria, Santarém, Montemor, Elvas e
mais tarde Viseu e Guarda. O seu discurso em Português era fraco, apenas sabia
umas palavras e tentava entender umas frases que ia ouvindo. Mesmo assim, se
queria fazer passar-se por Português necessitava de uma língua fluente e rica,
o que não era fácil.
De volta
ao Condado de Coimbra, já na Guarda, recebe a notícia que o Torneio de Justas
fora cancelado, um desperdício de 15 cruzados no seu ponto de vista. Preparava-se
então para mais uma viagem, novamente em direção ao Sul à procura de mais
alimentos e outros materiais. Em Leiria, enquanto caminhava pela cidade,
encontra numa rua mais estreita uma pequena loja. Damien estava curioso e
decidiu aproximar-se e entrar, não viu ninguém lá dentro, apenas lá estavam
ervas, frascos e livros. Nenhum produto daquela loja lhe interessava mas talvez
encontrasse algum dinheiro das vendas. O dia estava ventoso e calmo, ouvia-se o
ruído do vento e nada mais… procurando por algo que seja útil, vê num sítio
mais escondido uns livros e amuletos que pareciam ser de feitiçaria, as bruxas
eram queimadas vivas mas continuavam a existir, o medo e a morte não era
suficiente para que desaparecessem… entretanto, Damien ouve um barulho e vira-se,
rapidamente cai no chão inconsciente…
Acorda
preso com cordas numa cave e uma dor de cabeça. Não conseguia ver muito, a cave
era escuro apenas com uns raios de luz de uma pequena janela. Tenta
desamarrar-se do poste mas as cordas estavam apertadas demais, ia tentando
enquanto não aparecia ninguém, não sabia quem é que o tinha prendido ou o porquê
disso. Após algumas horas, entra uma pessoa, Damien não consegue ver a cara,
apenas nota pelas vestes que é uma mulher.
- Quem
és? – Perguntou ela.
- Damien
Mondrágon. ¿Y tú?
-
Espanhol… Encontrei isto nos teus bolsos… - Diz mostrando uma cruz aristotélica.
– Viste demais, não te posso deixar ir embora.
-
Comprendo, pero ya no soy lo aristotélico que era. Sólo guardo la cruz como
recuerdo. – Avisa.
- Não
posso correr riscos, mas diz-me porque vieste há minha loja?
-
Curiosidade apenas. – Mente para não piorar a situação.
Ouve-se
uma voz jovem…
-
¿Hermano?
- Quem
é? – Murmura baixo a mulher.
- Mi
hermana. – Diz baixando a cabeça.
- Porque
vieram para Portugal? – Questiona.
- Por
necesidad, hemos huido. – Respondeu.
A mulher
fica com pena de ter de matar alguém e deixar assim uma menina sozinha no mundo
como ela ficou quando era criança. Com a adaga desamarra Damien, ele vê
finalmente o rosto dela… olhos verdes com cabelos negros que apesar de jovens
mostravam já uma vida cheia de acontecimentos marcantes.
Os dois
sobem e encontram Sarah a observar a pequena e poeirenta loja. Damien abraça a
sua irmã e diz para ela esperar um pouco enquanto conversava com a morena,
Sarah foi vendo as grandes variedades de ervas que havia por ali e ele foi com
a mulher para uma pequena sala ao lado. Os dois contam as suas histórias e o
tempo vai passando. Eduarda, a morena de olhos verdes, perguntou no fim para
onde iriam eles, Damien respondeu:
- Por
ahora quédamos en Aveiro… En el futuro no lo sé…
- Bem,
se querem ficar por Portugal e parecem portugueses precisam de falar português…
Eu posso ensinar-vos. – Disse, sorrindo.
Damien
pensou por segundos e aceitou, de facto, falarem espanhol só chamaria atenções
indesejadas…
Os três
começaram a passar mais tempo juntos, Eduarda ensinava-os a falar português e a
escrever também, Damien tentava aproveitar as horas seguintes para treinar as
suas habilidades de combate, apesar de estar em segurança no momento, não sabia
o que poderia acontecer a seguir e queria estar preparado. Nesses momentos,
Eduarda observava-o… Ela tinha acabado por aproximar-se dele e acabara por ser
mais do que uma simples atração mas Damien não sabia.
Certa
noite, quando Sarah já dormia, os dois encontraram-se no sótão. Era uma das noites
mais frias daquele Inverno, o vento fazia-se ouvir dentro das casas e as
constantes chuvas arrastavam as folhas de um lado para o outro.
- O
telhado não vai aguentar muito tempo. – Disse Eduarda.
- Hm,
parece que si. Talvez dos dias. Tentarei arreglar-lo mañana.
-
Obrigado Damien, o teu Português já está a ficar muito bom. – Sorri.
- Com
uma buena professora, es fácil.
Entretanto
ouvem um ruído, como se um frasco caísse no chão e partisse. Damien
desembainhou a sua espada e disse que iria verificar e para Eduarda ir ter com
a sua irmã.
Damien
espreita pela porta que liga a casa à pequena loja… eram guardas e pelos vistos
já tinham encontrado as coisas suspeitas que havia. Rapidamente vai até ao quarto
e diz às duas para se esconderem, começaram-se a ouvir os passos dos guardas
reais cada vez mais perto. Cada guarda examinava cada divisão da casa à procura
de pessoas e Damien sabia que eles iriam encontrá-las se não os atraísse para
outro sítio. Assim que abre a porta, Damien salta da janela para o chão. O
guarda avisa os restantes e partem todos atrás dele que os esperava na entrada.
Assim que o primeiro saiu, a sua espada atravessou o peito de um. Apenas
restavam mais dois. Damien afastou-se enquanto eles se aproximavam lentamente,
naquele caso, o melhor ataque seria a defesa. Um dos guardas atacou-o com
rapidez, deslizando a sua espada de cima para baixo, Damien esquiva-se e
trespassa-o pela zona abaixo das costelas. O restante tentou aproveitar a situação
mas o loiro conseguiu proteger-se com a espada. O pesado armamento dos guardas
tornava-os muito lentos e ele aproveitava isso. Por breves segundos, as espadas
emitiram ruídos e faíscas, o guarda lentamente se cansava e os seus ataques
começavam a ser cada vez mais lentos, num deles, Damien desvia-se da investida
e fere-o na perna. O guarda apoia-se com o joelho no chão e o espanhol, à
semelhança de um carrasco, desliza a espada cortando-lhe a cabeça.
No
final, Damien dirige-se até às duas e avisa-as que amanhã cedo irão sair de lá,
para um sítio seguro, pois, mais guardas viriam. Pela madrugada Damien e Sarah
foram tratar da compra dos alimentos para a viagem, já no mercado, compraram
alguns pães quentes e milhos enquanto Eduarda tratava das suas coisas.
Quase na
rua estreita, Damien começa a ver um fumo negro erguer-se e começa a recear,
avisa Sarah para esperar ali por ele que voltaria rápido. Na última curva,
Damien vê que o fumo vem da casa de Eduarda e que na entrada estão guardas,
rodeados de vários habitantes e uma estaca com o corpo de Eduarda a arder sobre
uma fogueira. Vira costas e caminha como se ignorasse o que estava a ver, já
não poderia fazer nada por Eduarda por muito que assim o quisesse. Agarra na
mão de Sarah e leva-a para a saída da cidade em direção a Aveiro, a sua nova
cidade, sem responder às curiosidades da irmã.
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| À direita a rua estreita com a loja/casa de Eduarda |